The Way Out is Through
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The Twisted Trees

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Mensagem por João de Deus Sex Jan 09, 2009 9:02 pm

Como num retrato fiel à realidade em volta, a mata de Twisted Trees abriga árvores completamente tortas.

Pouco depois que a Mansão de Ashford foi encerrada, alguns turistas que faziam hiking na região da mata relataram ter visto uma besta baixinha de dois olhos pequenos e brilhantes acompanhada de uma figura extremamente alta e com um capuz diáfano e preto.
Achando que se tratava de um dos insanos locais, e achando divertido mostrar como recordação para suas famílias, os turistas tiraram fotos, mas apenas um estranho borrão brilhoso aparecia nas fotos, fossem digitais ou em filme.

Um especialista disse que era montagem; no entanto, alguns dos vândalos que fugiram da mansão usando a mata como atalho também disseram ter visto as mesmas figuras.

Um deles está afônico até hoje. Os outros, internados no hospício.
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Mensagem por Mei Zhang Qua Fev 25, 2009 7:29 pm

Esse post é continuação dos acontecimentos na Estalagem

Bem, levei alguns sustos referentes àquela reunião.
Pensei que entoaríamos mantras, um encontro de pessoas espiritualizadas tendo em comum o encontro do seu eu. Um encontro como os de Gnose, ou algo assim.

Ah-há. Enganei-me redondamente. A começar por um porco que cantava. Óbvio que a menina era ventríloqua. Acompanhei uma menina nas palmas após um rapaz de roxo berrante se apresentar, mas não houve uma ovação nem nada.

Mas como entretenimento foi divertido e, em nível de aprendizado, interessante. Jamais havia ouvido sobre quaisquer lendas daquelas que o Sr. João de Deus explanou. Algumas bem inacreditáveis.

O café foi de longe, o que mais gostei naquela reunião.

E gostei também da aproximação da jovem que explodia cabeças nas horas vagas. Recebi-a ao meu lado com um sorriso, não porque estivesse preocupada em ter minha cabeça separada do corpo, não sou afeita à bajulação, mas porque já experimentei a sensação de sufocar que de certo a dominava, aquele desejo intenso de abrir uma janela e gritar tão alto que sua garganta rasgaria e seus tímpanos estourariam com a própria voz.

É claro que explodir cabeças deveria propiciar um alívio mais imediato e seria menos invasivo (para quem deseja a explosão, claro) do que virar surdo-mudo, mas é como remédio potente para dor. Você tem o alívio, mas não a cura.
Por isso amo chá de camomila. Você controla e se torna dono do que sente e não o contrário.
Não, o chá de camomila não funciona bosta nenhuma para isso, mas me vejo no direito de ter um placebo. Alguns crêem em Deus, eu tomo chá.

- Ainda bem que não percebem que será a última dor de cabeça delas, você não acha? É como desejar que a dor suma para sempre, tão forte que vem e aí: pronto. Sem dor, para sempre. É interessante. – Falei, bebericando meu café.

O engraçado, pensava eu enquanto João de Deus passava aqueles filmes, slides e fotografias, é que ali ninguém acreditava em ninguém, mas desejava ardentemente ser acreditado. Eu, inclusive.
Isso tudo eu sentia ao ouvir João de Deus na sua ladainha sem fim. Tive vontade de pipocas, então tomei mais um café.

Finda a reunião, com a promessa de mais uma dali uma semana, o pessoal foi dispensado e nem tive tempo de entabular conversa com a Amélia, pois ela foi até o pátio. Não era fã da música que tocava.
Tão pouco eu era, mas como não podia explodir sequer cabeças de alho, e isso evitaria o mau cheiro nas mãos, resolvi ficar por ali.

Peguei-me a pensar que cada uma daquelas “entidades” ou como quisessem chamar, tinha seu correspondente humano.

Como aquelas pessoas que por si só, sem influência de nada, tinham natureza tão invejosa capaz de acabar destruir um casamento, gorar uma proposta de emprego; homens e mulheres vampiros de energia, capazes de transformar um evento alegre em funeral – isso até é relativo, muitos funerais devem ser comemorados alegremente, mas pessoas com energia em vibrações tão escuras que deixam você para baixo também; seres muito humanos que incitam a irritação, a raiva, o ódio, a intolerância. E muitos morriam nas guerras ególatras muito humanas.

A bem da verdade não se precisava ir até Ashford para encarar aqueles monstros de nomes diferentes, mas estar lá, aprender e se mostrar apto a enfrentá-los era outra coisa, por isso decidi mesmo estudá-los antes da segunda reunião. Na pior das hipóteses, eu sairia daquele “retiro espiritual” sabendo como lidar com a minha senhoria, aquela vaca.

- Olá. – Falei para uma moça ruiva que tinha a mão cheia de cápsulas e engolia uma a uma abaixo de um copo grande de água.

Ela fez sinal para que esperasse, deixou a bolsa com o jovem a seu lado e gritou algo sobre ir ao banheiro antes de sair correndo.

- Saberia me informar onde fica essa mansão? Gostaria de dar uma olhada no local, já que nos foi dada a instrução de estudarmos sobre o que pode haver lá. Nada melhor do que dar uma espiada. – perguntei, anotando o caminho, meio incerto, percebi pelo tom de voz, que ele conhecia.

Agradeci e já ia saindo quando tomei mais um susto danado com o rapaz que pulou uma das janelas, chutou o porco e ainda ameaçou socá-lo no focinho. Pelo menos foi isso que entendi, não estava e nunca estarei bem à vontade com as gírias Irlandesas.
E nem com a violência.

Não sei se alguém teria a mesma idéia que eu, mas se tivesse, provavelmente nos encontraríamos mais adiante, por isso, somente com uma bolsa de alça trespassada no corpo saí da estalagem, embrenhando-me pelas ruas daquela cidade curiosa.

Senti saudades dos meus pais e do meu filho, mas sabia ter feito a escolha certa, isso não me abandonava nunca, então acabaria por justificar qualquer erro que eu viesse a cometer ou arrependimento que me acometesse depois. O depois... Era depois.

Fui até a estação dos ônibus e esperei um pouco, não levou mais do que uns dez minutos, um que me deixaria em Deverell e parecia usado por muitos turistas chegou. O estranho é que a viagem levou cinco minutos. O dinheiro perdido valeu a graça. Alguns turistas estavam indo acampar na Mata das Árvores Tortas e me afirmaram que de lá, podia-se chegar bem próximo à Mansão. E que havia inclusive uma trilha para isso.

Empunhei minha máquina fotográfica simplesmente capturando tudo que encontrava pelo caminho, e que não era pouca coisa. O Vilarejo podia ser pequeno e tudo, mas havia uma luz, que eu sabia, deixaria uma impressão diferente nas minhas imagens.

Queria uma foto da Mansão, por isso me embrenhei pela mata rala de árvores diferentes, evitando os troncos que rastejavam entre os arbustos até dar de cara em uma cerca de arame, meio enferrujada, mas bem firme, pelo que pude sentir ao tocá-la.
Ah é! Senti medo também. Só não sei se era o meu.

Segurei a câmera tremendo, era aquele aviso urgente de que o ideal seria sair dali martelando meus ouvidos. O aviso corroborado pelos pêlos arrepiados do meu corpo fez com que eu guardasse a máquina na bolsa para sair dali o quanto antes.



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The Twisted Trees Empty Re: The Twisted Trees

Mensagem por Frid Qui Fev 26, 2009 9:52 am

Quem já ouviu falar de algo tal como o mal combatendo o mal?

Nesses lugares tenebrosos em que as leis naturais conspiram contra as vinte e quatro horas do dia e contra a pureza da lua, convertendo seu brilho em sangue e o sangue em veneno, também a vingança atormenta o presente daqueles que a transformaram em passado.

Mas o passado sempre volta, não sendo para isso necessário fossilizá-lo em caixinhas de música, insculpi-lo em lajes e convertê-lo em uma cidadela de monumentos que transformam terra útil (poderia ser útil) em sarcasmo contra os desapossados — que não têm onde cair VIVOS. No entanto, até a morte ganhou status de propriedade, e as teorizações do grande capital convencem facilmente... os imbecis. Assim, ela se torna obsessão romanceada com racionalizações sofríveis que procuram justificar sua morbidez e falta do que fazer de melhor para fertilizar em futuro as horas para tanto ofertadas pelo presente; desse modo, a vida é trocada pela morte a título de valorização da vida: quer dizer apenas que alguns estão mortos, só não sabem disso ainda...

Nesse oceano em que as águas não passam da dissolução dos náufragos nas lágrimas de sua covardia, vagueiam outras sombras perdidas em busca de socorrer os perdidos, para negar ao predador as mesmas vantagens que um dia elas mesmas lhe foram. Ainda que sua motivação seja a vingança, quem nunca ouviu falar que o inimigo do meu inimigo é meu amigo? Só não se pode contar, porém, que o amigo de agora será o mesmo amanhã. Quem ousa brincar com a sorte nesses ermos da dissidência?

Sombras autônomas atravessam a mata lentamente, detendo-se ante a passagem dos curiosos. Assim contidas do lado de arbustos à beira do caminho, batido pela peregrinação dos teimosos, se parecem com pedras, com casas de cupim queimadas, muito embora não se esteja no cerrado brasileiro... Ainda assim, as pessoas são tão desatentas e temerárias que não percebem o inusitado. Graças à apofenia, vêem somente o que lhes é familiar e tratam logo de procurar lógica no absurdo e ordenhar leite das pedras, mas que seja, tudo precisa estar sob controle, e a máxima expressão disso são suas racionalizações (quanto mais sofismáticas, melhor).

Ao fim e ao cabo, a hipocrisia é instinto mais básico que a fome; ao passo que preferem acreditar que estão no controle, o motivo por que se embrenham nestas matas, mesmo apesar de todas as histórias e de todos os avisos, é que desejam o perigo, talvez para provar sua força (nem suas próprias racionalizações os convencem, afinal elas não passam de teorização, fumaça), mas estas incursões igualmente servem bem como auto-punição: no fundo sabem como mentem para si mesmos.

Primeiro o negro. Ele correu, como se fugir fosse salvaguarda. Nem sempre há saída, nem sempre há para onde ir. Inventam portas e estas portas são suas abstrações e sofismas, mas na hora da crise não funcionam, e por isso vão estar sempre em busca. Nunca irão admitir, porém, que essa busca constante é uma evidência de que só o que têm é fumaça, por mais reboco que amontoem sobre as cartas de seus castelinhos.

Tivemos que formar outras barreiras mais para que ele não encontrasse a saída para a morte mais dolorosa. Pois morrer... todos vamos. Falo por experiência própria.

Agora a moça de olhos rasgados. Tem a sorte de haver uma cerca — e de ainda ser dia. Há certas criaturas que não têm um bom relacionamento com a luz. Mas há partes realmente escuras nessa mata, e contudo, se ela permanecer nos trilhos abertos, não encontrará o negro.


A sombra se desenrolou perante ela, dois círculos vermelhos brilhando como olhos de fogo. Por mais sensitiva que ela fosse, só pôde pressentir o perigo. A boa notícia é que as antenas dela estavam funcionando ambivalentemente bem.

Ela correu como pôde, com o puca lentamente deslizando acima do solo, atrás dela. A sensação de que conseguiria escapar era trazida pelo sopro de esperança, que é a última que morre. Mas ela morre também.

Mais adiante outro puca apareceu, obrigando-a a correr para um dos lados - para o lado de trilha aberta, sendo porém detida por um terceiro sombra. Assim, ela voltou e teve que se embrenhar na entrada de mata cerrada que tinha procurado evitar.

Ela gritava, mas parecia que ninguém a escutava. Ela mesma não conseguia ouvir os próprios gritos. Flashes do pensamento de que poderia ser miragem, poderia ser engano, poderia ser alguma coisa no chá de camomila, acorriam ao pensamento, mas ela queria correr o risco? Não seria assim tão tola.

Só parou quando tropeçou no corpo de um negro. Estendida no chão, ergueu o tronco sobre as mãos feridas, olhou para trás e para os lados: as sombras haviam desaparecido. Estaria aquele homem morto?
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Mensagem por Mei Zhang Sáb Fev 28, 2009 7:44 pm

Pensei que era o fim. O meu, óbvio.
É horrível a sensação gelada na pele quando se está com medo. Durante a minha breve corrida me deixei ser guiada por aquele instinto, aquele que eu sempre ouvia e que se naquele momento se tornara o básico da sobrevivência. Sequer pensei estar me embrenhando mata adentro ao invés de mata afora.

Pensei que encontraria os turistas que deixei para trás e tudo que encontrei foi um cadáver. Imediatamente, com o rosto grudado no chão e minhas pernas ainda por cima da pessoa estirada pensei que a intenção era o sepultamento do corpo. Que eu havia pressentido o espírito do jovem a me guiar para encontrar seu corpo abandonado propiciando assim seu eterno descanso, como naqueles filmes hollywoodianos.

Levantei-me com dificuldade, virando-o de barriga para cima.
Deitei minha cabeça no peito dele e muito mal escutei o coração. Encostei minha bochecha no nariz dele e não senti nenhum arzinho escapando. Seria uma parada respiratória?

Tenho que dizer que nunca fui enfermeira ou médica, nem nunca tive pretensão de ser, então tudo o que fiz estava baseado no que se ouve por aí. Mais precisamente no que se ouve da minha mãe.

Ela sempre conta uma história maluca de um bebê, filho de uma vizinha lá nos campos de arroz chineses, que se engasgou com leite. A vizinha, mãe desesperada sentindo a vida do filho querido se esvaindo em suas mãos, saiu porta afora, chamando a atenção de todos da vila. O bebê passou de mão em mão, cada um virando de lado a lado, ponta cabeça, benzendo e, quando estava quase todo na cor azulada da morte, chegou aos braços da minha mãe, salvadora. Ela, chinesa arrogante, simplesmente colocou o bebê nos braços e chupou o nariz dele. O chinesinho em seguida pôde respirar tranqüilamente e até hoje ele liga para minha mãe no aniversário, agradecendo-a.

Mas é claro que eu não ia chupar o nariz daquele gigante no meio do mato!
Então simplesmente abri a camisa dele, percebendo muito rapidamente que minhas mãos pareciam quase que fantasmagoricamente brancas em contraste com a pele negra, segurei firme em cada mamilo escuro e torci com toda a minha força.
É. Isso foi meu pai que ensinou. Ele também achava nojento chupar nariz a fim de ressuscitar quem quer que fosse.

O negro gritou até mais alto do que eu, já que gritei também por causa do susto que ele me deu, erguendo o tronco de supetão.
Pelo menos estava vivo.

- Você está bem? – perguntei, passando a minha mão maternalmente na testa dele, à procura de um estado febril ou coisa assim.
- Consegue se levantar? Que bom, porque duvido que eu faça alguma diferença tentando ajudar você a se levantar. Não tenho muita força.

Ele levantou sozinho, era mais alto do que eu supunha. O que era bom, dizem que os altos enxergam mais longe, talvez ele enxergasse a saída dali. Eu não queria esbarrar em nenhum outro corpo desfalecido, se pudesse evitar.


- Vamos por ali. – Apontei para o lado de um corredor de sebes altas que tentavam competir com as árvores tortas. Não era o caminho de onde eu havia vindo mas, sabe, melhor andar para frente do que para trás.

Ele inspirava e expirava ruidosamente, e perguntei se ele era algum turista, se fazia parte de algum grupo, coisa assim.
Soube que seu nome era Tyrone e que era mecânico e de algumas partes do porquê dele estar ali. Algumas partes porque bem, todo mundo sabe que ninguém conta tudo em um primeiro momento, isso é normal. Tyrone guardava algo para si, mas eu sabia, uma hora ele contaria.
Aí quem sabe eu trocaria informações, dizendo que algo sinistro estava acontecendo com ele. Porque estava. Antinaturalmente para mim, eu não sentia medo dele.

Estava anoitecendo e o pior era que no meio do mato a escuridão chegava antes. Lembrei do vislumbre que tive dos olhos vermelhos e a sensação de terror por estar ao ar livre no meio do mato me assustou novamente. Assustar seria pouco. Fiquei aterrorizada, é claro. Jamais imaginei que as histórias que João de deus havia contado pudessem ser algo mais além de lendas, mas sentir o pavor que eu havia sentido tinha mudado um pouco a minha opinião sobre seres sobrenaturais.

Contei a ele sobre isso, sobre a reunião com João de Deus e sobre as criaturas que ele afirmou que encontraríamos na Mansão.

- Você conhece essa Mansão? Até me ocorre que seria uma boa idéia irmos até lá. De lá sei como voltar, ou quem sabe podemos encontrar algum dos turistas que estavam acampando, ou... Não sei. – Falei por fim.

Eu só queria encontrar o caminho correto para voltar para a Estalagem antes que pudesse descobrir qual daqueles monstros do João de Deus estava nos perseguindo.
Isso mesmo, eu podia sentir que estávamos sendo vigiados. Não compreendi que aquilo vinha de dentro dele.

Evitei comentar com Tyrone que minha sorte dizia que estávamos numa maré de azar.
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The Twisted Trees Empty Re: The Twisted Trees

Mensagem por Tyrone Sex Mar 06, 2009 7:02 pm

Tyrone tremia e suava num nervoso descontrolado. Ele tentava responder as perguntas da chinesa e mostrar alguma calma, afinal de contas era ele quem, por brios masculinos, deveria ser o protetor ali, mas no fim a chinesa parecia mais no controle da situação do que ele, ou pelo menos fingia melhor que ele. E podia ser isso mesmo que estava acontecendo, por causa do instinto maternal, querer que o outro se sinta bem e, portanto, passar toda uma impressão de fortaleza. Quase funcionou.

Ela falava com desenvoltura, contava-lhe as coisas que o João de Deus havia dito, tentava localizar dentro da breve aula que tinham tido com ele de manhã a criatura que ela vira e que a havia atraído - ou expulsado - até onde se encontrava o corpo de Tyrone.

Enquanto Mei Zhang tagarelava, para efeito calmante sobre Tyrone, ele seguia na frente, respirando muito forte e rápido, atento para todos os lados e direções, como se quisesse ter certeza de que uma determinada presença não estava ali, embora a sentisse. Longe dos olhos, dizem, longe do coração. Aos poucos ele recuperava o domínio de si mesmo, mas não respondia as perguntas da chinesa sobre o que ele parecia estar tentando localizar - apenas explicou que estava é se certificando de que não poderia localizar, mas o que era isso, não especificou.

Ele aceitou todas as sugestões da bonita oriental e tomaram um caminho que, ela sentia, poderia desembocar na mansão mal-assombrada, pois dali ela saberia o caminho de volta. Aos poucos, contudo, ele percebia que ela estava percebendo que o caminho se tornava cada vez menos familiar. As árvores pequenas e retorcidas iam se agigantando, a abóbada do bosque ficava mais cerrada, o ar mais úmido, e logo o que antes era um bosque seco estava parecendo um brejo. Mei foi ficando cada vez mais calada e, paradoxalmente, foi aí que ele tomou coragem de lhe contar sobre o que antes hesitava por nem ele conseguir acreditar em sua própria experiência:

- Eu conheço a fama desse vilarejo. Acredito até certo ponto em fenômenos paranormais, mas tudo que possa ser explicado à luz da parapsicologia, por exemplo, este lugar pode muito bem enlouquecer as pessoas e por isso elas vêem monstros, não que os monstros existam. Só que... - ele parou para respirar mais fundo e aceitou um cantil de água que ela tirou da mochila. Após pensar duas vezes, resolveu prosseguir: - Eu posso jurar que vi uma velha se transformar em imagem e semelhança da minha pessoa. E essa velha transformada em mim começou a me perseguir, quanto mais rápido eu corria, mais o bicho corria também. Até que me embrenhei nestas matas na esperança de despistá-lo, e na corrida e no desespero bati com a cabeça num galho, aí tropecei em uma raiz e tornei a bater com a cabeça no chão. Creio que você salvou a minha vida, porque com o nível de adrenalina que eu estava antes do desmaio e a queda de pressão muito súbita, acho que ficando desacordado mais tempo eu poderia entrar em coma por causa de um choque anafilático, mas a dor que você me provocou me fez voltar a mim.

Ele não achou necessário lembrar que tinha sido uma torção em cada mamilo. Tortura chinesa aqueles dedinhos finos com a determinação de alicates.

Pela descrição que ele fez da velha se transformando nele mesmo, Mei reconheceu o doppelganger das histórias do João de Deus e tratou de tranqüilizá-lo:

- Menos mal. Um doppelganger só vai fazer contra você o que você faria contra si mesmo, pelo que pude entender.

E a vontade que tomava conta de Tyrone nesse momento era justamente torcer a própria cabeça, que assomava de trás de uma árvore bem mais à frente. Não tinha conseguido despistar o maldito afinal.
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